terça-feira, 23 de outubro de 2012

Eu costumava saber

Eu sei
você lê este poema
querendo encontrar algo
que o eleve ou
uma nova expressão da língua
e fica
extremamente
decepcionado.
Eu sei
como é difícil pra você
acostumado a ler
o cânone da academia
os formalistas
os parnasianos
os suicidas
perder um tempo
lendo os meus versos
desconexos
sem rima ou
profundidade
sem métrica ou
vaidade
mas é uma pena
que você não encontre
nos meus poemas
o que encontrei
em outros poemas:
A verdade.
Eu sei
o quão difícil é pra você
ler "foder"
no lugar de "fazer amor"
e "cachaça"
no lugar de "champagne"
mas não me culpe
culpe a sua
perspectiva
burguesa.
Eu sei
que é difícil pra você
deixar de de crer
que os medalhões falam a verdade
e que sua graduação em Letras
seu mestrado em História da Literatura
seu doutorado em Literatura Portuguesa
são apenas troféus empoeirados
na estante da humanidade.
Eu sei
que você vai chegar lá
quando deixar de "evacuar"
e passar a "cagar"
como uma pessoa normal
e que em breve
muito em breve
você terá bons motivos
para escrever fora dos padrões
impostos por mestres jurássicos
com rabos besuntados
por talco
Alma de Flores.
Quando você chegar lá
me liga
mas por enquanto
divirta-se
com suas antologias
enquanto economizo
para editar
meu primeiro livro
de poesia.


Rody Cáceres
blogdorodycaceres.blogspot.com.br
Vendedor de livros, acadêmico de Letras, escritor nas horas vagas e músico acidental. Autor de "Para onde foram os heróis" [e-book e papel] - estará entre os poetas do 13º Poesia no Bar, no próximo domingo (28), em Rio Grande.

[Postado por Ju Blasina]

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