Pai,
olhai por aqueles
[que habitam um universo
sem nada
a admirar.
Tende piedade do choroso
[que vive
não só
de lágrimas.
Mas tende piedade,
ademais,
do homem poeta:
frágil,
esquizofrênico,
de óculos quadrado,
que transita pelos próprios lares
repetindo à poesia:
não creio,
não é possível,
diga a todos que é totalmente impossível deixá-la.
Gabriel Borges
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
domingo, 23 de dezembro de 2012
eu durmo comigo
eu durmo comigo
de bruços deitada eu durmo comigo
virada pra direita eu durmo comigo
eu durmo comigo abraçada comigo
não há noite tão longa em que não durma comigo
como um trovador agarrado ao alaúde eu durmo comigo
eu durmo comigo debaixo da noite estrelada
eu durmo comigo enquanto os outros fazem aniversário
eu durmo comigo às vezes de óculos
e mesmo no escuro sei que estou dormindo comigo
e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir ao lado.
Angélica Freitas é pelotense, autora dos livros: Rilke Shake (2007), Um útero é do tamanho de um punho (2012) e Guadalupe, em parceria com Odyr Bernardi. (2012).
[postado por Ediane Oliveira]
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
a escolha de cecília
nenhuma vontade lhe parecia válida
ou suficiente
gastava no uso repetido os dias velhos
e se desgastava neles
desgostava deles a ausência de serventia
a tal ponto sem vontade
sem pressa e sem demora
cecília esvaziava-se de si
de sua lucidez cansada
correram alguns a dizer que morreu por escolha
embalada ao ânimo que lhe faltava em vida.
Denise Freitas, nasceu em Rio Grande (RS) no dia 10 de dezembro de 1980. É professora de História, no ano de 2007 publicou o livro "Misturando Memórias: contos e crônicas de Itajaí", em parceria com Leandro dos Santos. Blog www.sisifosemperdas.blogspot.com
ou suficiente
gastava no uso repetido os dias velhos
e se desgastava neles
desgostava deles a ausência de serventia
a tal ponto sem vontade
sem pressa e sem demora
cecília esvaziava-se de si
de sua lucidez cansada
correram alguns a dizer que morreu por escolha
embalada ao ânimo que lhe faltava em vida.
Denise Freitas, nasceu em Rio Grande (RS) no dia 10 de dezembro de 1980. É professora de História, no ano de 2007 publicou o livro "Misturando Memórias: contos e crônicas de Itajaí", em parceria com Leandro dos Santos. Blog www.sisifosemperdas.blogspot.com
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
ainda penso nela
é claro que sinto saudade
quando estou no canto esquerdo daquela janela.
não raro me vejo à espera
de reviver um romance da minha mocidade.
de um lado, ela vinha
[sozinha,
com seu aspecto hábil, primitivo no feminino.
de outro, estávamos
[juntos,
com nosso instinto, idiossincrasia conjugal.
é saudade, claro que é!
"a mulher não nasce mulher, torna-se mulher"
quantas vezes me falou isso ao pé do ouvido.
fomos felizes.
creio que, por ela, ainda sou feliz.
e, por isso, que
[naquela janela,
está a saudade de uma antiga namorada:
Simone de Beauvoir.
Gabriel Borges
o tempo não a tirou de mim.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Rebenque
Um certo Caboclo Damatta me disse
Que um tal de João Simões Lopes Neto
Deixou escrito numa nota promissória
Que o rebenque...
O rebenque são os olhos.
Então me pus a pensar
Ainda arrepiado
Arredio a qualquer chibatada
Que se o rebenque são os olhos
Meu amigo Caboclo
A lágrima é a pele marcada.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
das pretensões
E quando entendemos tudo
errado
pretensiosamente
"supondo que"
não somos assim
habilitados a saber
das coisas
dos outros
entender o próprio erro
seria um acerto
não fosse apenas um novo tipo
de pretensão.
Ju Blasina
P+2T: jublasina.blogspot.com.br
errado
pretensiosamente
"supondo que"
não somos assim
habilitados a saber
das coisas
dos outros
entender o próprio erro
seria um acerto
não fosse apenas um novo tipo
de pretensão.
Ju Blasina
P+2T: jublasina.blogspot.com.br
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Inventário do Desamor
Deixo contigo meu sangue
meus livros e minhas horas.
E a dor cansada na insônia
contra o lençol das demoras.
Deixo a paz que eu encontrei
mas me fugiu entre os dedos.
E a chave surda e sem uso
da gaveta dos meus medos.
Deixo perdido um poema
e não por esquecimento:
mas pra que um dia eu te encontre
na leve pauta dos ventos.
Deixo contigo meu ventre
meus olhos, minhas entranhas.
E com mãos nuas, reflito:
- Perde mais quem hoje ganha?
Deixo contigo meus beijos
meu suor, meu desabrigo.
Deixo roupas, documentos.
De meu, nada irá comigo.
Deixo a sombra, de teimosa.
Deixo as fotos, deixo a casa.
Do poço mais infinito
só levo a alma, presa e rasa.
meus livros e minhas horas.
E a dor cansada na insônia
contra o lençol das demoras.
Deixo a paz que eu encontrei
mas me fugiu entre os dedos.
E a chave surda e sem uso
da gaveta dos meus medos.
Deixo perdido um poema
e não por esquecimento:
mas pra que um dia eu te encontre
na leve pauta dos ventos.
Deixo contigo meu ventre
meus olhos, minhas entranhas.
E com mãos nuas, reflito:
- Perde mais quem hoje ganha?
Deixo contigo meus beijos
meu suor, meu desabrigo.
Deixo roupas, documentos.
De meu, nada irá comigo.
Deixo a sombra, de teimosa.
Deixo as fotos, deixo a casa.
Do poço mais infinito
só levo a alma, presa e rasa.
*Jaime Vaz Brasil é psiquiatra e escritor. Diretor técnico e docente do Instituto Fernando Pessoa. Possui seis livros publicados e recebeu vários prêmios literários e em festivais de música. Dentre eles, o Prêmio Açorianos de Literatura e o Prêmio Felippe d'Oliveira. Alguns dos poemas foram musicados, e há dois livros com os poemas em cd: "Os Olhos de Borges", musicado por vários compositores, e "Pandorga da Lua", musicado por Ricardo Freire.
[postado por Ediane Oliveira]
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Imolação
serpente no jeito
(tramando) no transe .dois-pontos.
uma flor
de-li-ca-da-men-te esquecida
para que secasse
veneno - seiva do pérfido na pág
i
na 245
da negra
com letras em ouro BÍBLIA SAGRADA
hoje
por que justo
se não havia "por que"
se era abandono já
aí eu grito pentecostes.
Henrique Pimenta - autor de "99 sonetos sacanas e 1 canção de amor".
(tramando) no transe .dois-pontos.
uma flor
de-li-ca-da-men-te esquecida
para que secasse
veneno - seiva do pérfido na pág
i
na 245
da negra
com letras em ouro BÍBLIA SAGRADA
hoje
por que justo
se não havia "por que"
se era abandono já
aí eu grito pentecostes.
Henrique Pimenta - autor de "99 sonetos sacanas e 1 canção de amor".
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
EN PIE
Sigo
en pie
por
latido
por
costumbre
por no
abrir la ventana decisiva
y
mirar de una vez a la insolente
muerte
esa
mansa
dueña
de la espera
sigo
en pie
por
pereza en los adioses
cierre
y demolición
de la
memória
no es
un mérito
otros
desafían
la
claridad
el
caos
o la
tortura
seguir
en pie
quiere
decir coraje
o no
tener
donde
caerse
muerto
Mario Benedetti (1920 - 2009)
[Postado por Daniel Moreira]
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
FOMES
o dia é uma laranja
cheia de gomos
sumarenta
doce e ácida a se oferecer aos dentes
e desafiar a língua
a insuspeitos paladares
o dia é uma laranja
que se abre, colorida,
e me chama, irresistível:
- experimenta!
o dia é uma laranja
que existe tão somente
para matar-me a sede
e deliciar-me a boca
quero-a toda, laranja-dia,
mastigá-la fibra a fibra
sorvê-la até a última gota
não deixar nada para trás
- sementes, casca, nada!
o dia é uma laranja madura e sedutora
e a noite virá em paz
se puder comê-la inteira
completamente
sem desperdício
o dia é uma laranja
que me relembra
que estou viva
e que viver é o meu vício!
Marcia Szajnbok
Médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, trabalha como psiquiatra e psicanalista. Apaixonada por literatura e línguas estrangeiras, lê sempre que pode e brinca de escrever de vez em quando. Paulistana convicta, vive desde sempre em São Paulo, sempre à procura da poesia na loucura da cidade.
[Postado por Ju Blasina]
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Depois de tua mentira
Depois de tua mentira
Não há diferença
Entre paredes e rios
Pássaros e leões
Gabinetes e favelas
Entre a margem e o infinito.
Depois de tua mentira
Flores e armas matam
Sol e tempestade se abraçam
Poesia e estatutos
Moram na mesma estante
Cadáveres e asas
no mesmo concreto.
Depois de tua mentira
índios, muçulmanos, armas e brancos
moram na mesma tenda
nada mais se separa.
(até os estúpidos
compreenderam a liberdade roubada
daqueles que nos descobriram aqui)
Depois de tua mentira
não há sentido nas coisas
não há sentido
no sentido
de sentir
não há separação de homens
espécies, ritimos
raivas, amores e linguagens
nem de lixo e lustres em tetos de mármore
nem de crianças atrás da bola
e de políticos atrás de cofres
Depois dessa tua triste e insana
mentira
Veio até mim
o vão
O vão das coisas
O vão sozinho
E a descrença de tudo
No que fala
No que é mudo
No que é oposto
Que é desgosto
E no que é posto.
Depois da vinda da tua mentira
Nada mais me virá.
[postado por Ediane Oliveira]
Não há diferença
Entre paredes e rios
Pássaros e leões
Gabinetes e favelas
Entre a margem e o infinito.
Depois de tua mentira
Flores e armas matam
Sol e tempestade se abraçam
Poesia e estatutos
Moram na mesma estante
Cadáveres e asas
no mesmo concreto.
Depois de tua mentira
índios, muçulmanos, armas e brancos
moram na mesma tenda
nada mais se separa.
(até os estúpidos
compreenderam a liberdade roubada
daqueles que nos descobriram aqui)
Depois de tua mentira
não há sentido nas coisas
não há sentido
no sentido
de sentir
não há separação de homens
espécies, ritimos
raivas, amores e linguagens
nem de lixo e lustres em tetos de mármore
nem de crianças atrás da bola
e de políticos atrás de cofres
Depois dessa tua triste e insana
mentira
Veio até mim
o vão
O vão das coisas
O vão sozinho
E a descrença de tudo
No que fala
No que é mudo
No que é oposto
Que é desgosto
E no que é posto.
Depois da vinda da tua mentira
Nada mais me virá.
[postado por Ediane Oliveira]
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Da sala de espera da consulta
No canto esquerdo
[daquela janela
é que a saudade vem.
Engraxando os sapatos
[escorado no vidro
é que a saudade ele tem.
De cócoras,
pensa em tudo.
De mãos no bolso,
percebe o desdém dos 'outros' ao seu redor.
E saudade e saudade e saudade...
é o fotógrafo,
aos trinta anos,
repensando o peso do tempo.
- Paremos de lamento,
o dia da consulta chegou.
Gabriel Borges
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Aos meus reais
Aos amigos
reais
aos amores
leais:
há toda essa gente
que ri e que chora
e que tanto se sente
e pelas quais rio eu
mesmo quando descontente
e muitas vezes sou pega
a chorar descrente
da/de verdade
ainda que a elas se conte
feito pequenas contas roladas
com as pontas dos dedos
é por elas que a vida se faz
raridade
e cada riso, cada lágrima, cada dia
e noite e dia e... todo o sentir
mesmo o pesar
do suspiro
do poema
sobretudo
o último dos meus
passa por elas
e assim
a poesia se faz
enfim a valer
a pena.
Por Ju Blasina
reais
aos amores
leais:
há toda essa gente
que ri e que chora
e que tanto se sente
e pelas quais rio eu
mesmo quando descontente
e muitas vezes sou pega
a chorar descrente
da/de verdade
ainda que a elas se conte
feito pequenas contas roladas
com as pontas dos dedos
é por elas que a vida se faz
raridade
e cada riso, cada lágrima, cada dia
e noite e dia e... todo o sentir
mesmo o pesar
do suspiro
do poema
sobretudo
o último dos meus
passa por elas
e assim
a poesia se faz
enfim a valer
a pena.
Por Ju Blasina
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Pensar na vida
como um jazz
onde a próxima nota
é sempre imprevisível
mesmo desafiando
a harmonia das coisas
o som surge sempre
e o silêncio evidencia
o ritmo encantado
de um coração que sonha
sobre todas as coisas
A pesar de tantas mortes
pensar na vida
como um jazz
e dançar
ao sabor das horas
como se jamais
houvesse um fim
como se jamais
houvesse um início
[postado por valder valeirão]
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
A balada do cárcere de Reading
No entanto, todo homem mata aquilo que adora,
Que cada um deles seja ouvido.
Alguns procedem com dureza no olhar,
Outros com uma palavra lisonjeira.
O covarde fá-lo com um beijo,
Enquanto o bravo o faz com a espada!
Uns matam o próprio amor quando ainda jovens,
Outros o fazem na velhice;
Uns estrangulam com as mãos da luxúria,
Outros com a mão de Ouro,
O que é bondoso faz uso do punhal,
Porque a morte assim vem mais depressa.
Uns amam pouco tempo,outros demais,
Uns vendem,outros compram;
Alguns praticam a ação com muitas lágrimas
E outros sem um suspiro,sequer:
Pois todo o homem mata o objeto do seu amor
E, no entanto, nem todo homem é condenado à morte.
Oscar Wilde
[postado por Ediane Oliveira]
Que cada um deles seja ouvido.
Alguns procedem com dureza no olhar,
Outros com uma palavra lisonjeira.
O covarde fá-lo com um beijo,
Enquanto o bravo o faz com a espada!
Uns matam o próprio amor quando ainda jovens,
Outros o fazem na velhice;
Uns estrangulam com as mãos da luxúria,
Outros com a mão de Ouro,
O que é bondoso faz uso do punhal,
Porque a morte assim vem mais depressa.
Uns amam pouco tempo,outros demais,
Uns vendem,outros compram;
Alguns praticam a ação com muitas lágrimas
E outros sem um suspiro,sequer:
Pois todo o homem mata o objeto do seu amor
E, no entanto, nem todo homem é condenado à morte.
Oscar Wilde
[postado por Ediane Oliveira]
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Para Lindsay
Vachel, as estrelas se apagaram
a escuridão caiu na estrada do Colorado
um automóvel rasteja lento na planície
pelo rádio ressoa o clangor do jazz na penumbra
o inconsolável caixeiro viajante acende mais um cigarro
Há 27 anos em outra cidade
eu vejo sua sombra na parede
você de suspensórios sentado na cama
a mão de sombra encosta uma pistola em sua cabeça
seu vulto cai no assoalho
Allen Ginsberg
[Postado por Daniel Moreira]
a escuridão caiu na estrada do Colorado
um automóvel rasteja lento na planície
pelo rádio ressoa o clangor do jazz na penumbra
o inconsolável caixeiro viajante acende mais um cigarro
Há 27 anos em outra cidade
eu vejo sua sombra na parede
você de suspensórios sentado na cama
a mão de sombra encosta uma pistola em sua cabeça
seu vulto cai no assoalho
Allen Ginsberg
[Postado por Daniel Moreira]
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Fogo e gelo
Alguns dizem que o mundo acabará em fogo,
Outro dizem em gelo.
Do que já provei do desejo
Fico com aqueles que são a favor do fogo.
Mas se tiver de acontecer duas vezes,
Penso que sei já o suficiente do ódio
Para dizer que a destruição pelo gelo
Também é boa,
E há de bastar.
Robert Frost
[postado por Ju Blasina]
Outro dizem em gelo.
Do que já provei do desejo
Fico com aqueles que são a favor do fogo.
Mas se tiver de acontecer duas vezes,
Penso que sei já o suficiente do ódio
Para dizer que a destruição pelo gelo
Também é boa,
E há de bastar.
Robert Frost
[postado por Ju Blasina]
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Aqui estão os loucos.
Os desajustados.
Os rebeldes.
Os
criadores de caso.
Os pinos redondos nos buracos quadrados.
Aqueles que
vêem as coisas de forma diferente.
Eles não curtem regras.
E não
respeitam o status quo.
Você pode citá-los,
discordar deles,
glorificá-los ou
caluniá-los.
Mas a única coisa que você
não pode fazer é
ignorá-los.
Porque eles mudam as coisas.
Empurram a raça humana para a
frente.
E, enquanto alguns os vêem como loucos,
nós os vemos como
geniais.
Porque as pessoas loucas o bastante
para acreditar que podem
mudar o mundo,
são as que o mudam.
[postado por valder]
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Faxina
A sinceridade dos fatos
diminui a aflição.
Não era bossa nova
que daria o entendimento do todo,
talvez, encontrasse resposta em uma explicação tropicalista.
Versos simples.
Palavras quase que soltas
[desconexas
sopradas ao pé do meu ouvido
mostravam a composição da imagem.
Aquele quadro
[não na parede, mas sobre o braço do sofá velho, surrado
refletia a minha sensação:
o quão importante são estas estéticas empoeiradas para a mobília do meu apartamento.
diminui a aflição.
Não era bossa nova
que daria o entendimento do todo,
talvez, encontrasse resposta em uma explicação tropicalista.
Versos simples.
Palavras quase que soltas
[desconexas
sopradas ao pé do meu ouvido
mostravam a composição da imagem.
Aquele quadro
[não na parede, mas sobre o braço do sofá velho, surrado
refletia a minha sensação:
o quão importante são estas estéticas empoeiradas para a mobília do meu apartamento.
Gabriel Borges
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
A seu favor
Sempre que me chamas
Lá do alto
Onde moras
Eu percebo o quanto é bom
Poder voar sem asas
Sempre que és chama
Fogo alto
E vai embora
Eu consigo levitar
Ao passear por sua brasa
E quando me pedes
Sem receio
Que eu a encontre em tanto tempo
Enrolo logo um bom motivo
Pois sou fumaça no vento
A seu favor.
Lá do alto
Onde moras
Eu percebo o quanto é bom
Poder voar sem asas
Sempre que és chama
Fogo alto
E vai embora
Eu consigo levitar
Ao passear por sua brasa
E quando me pedes
Sem receio
Que eu a encontre em tanto tempo
Enrolo logo um bom motivo
Pois sou fumaça no vento
A seu favor.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
da dor [da morte] dela
Eu deveria estar ao seu lado
no momento
da morte dela
eu deveria estar
ao lado dela
no momento da sua
morte
quem fica?
quem vai?
qual é o lado
certo
em que se deve
estar?
tanto faz
quer seja
mãe
pai
filho
ou filha
quer seja
bicho
quer seja
gente
a gente
dói
se vai
e há dor se fica
tanto
tanto
que já nem sequer se sabe
de que lado se deveria estar
e na dúvida
a gente se fica
só
mais um tantinho.
postado por Ju Blasina.
no momento
da morte dela
eu deveria estar
ao lado dela
no momento da sua
morte
quem fica?
quem vai?
qual é o lado
certo
em que se deve
estar?
tanto faz
quer seja
mãe
pai
filho
ou filha
quer seja
bicho
quer seja
gente
a gente
dói
se vai
e há dor se fica
tanto
tanto
que já nem sequer se sabe
de que lado se deveria estar
e na dúvida
a gente se fica
só
mais um tantinho.
postado por Ju Blasina.
Eu queria ser desses
que nunca aprendem
a quem a vida
não consegue ensinar
queria ser como
os que gozam e não sentem
como os que partem
sem nenhum anseio de voltar
que nunca aprendem
a quem a vida
não consegue ensinar
queria ser como
os que gozam e não sentem
como os que partem
sem nenhum anseio de voltar
mas estou do lado de cá
onde a visão encurta as distâncias
e ofusca a imensidão
aqui de onde partem
múltiplos caminhos
e um poema
é quase sempre
a única saída.
valder valeirão
onde a visão encurta as distâncias
e ofusca a imensidão
aqui de onde partem
múltiplos caminhos
e um poema
é quase sempre
a única saída.
valder valeirão
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
.
quatro medos diante do tempo
em cântico, terno desespero
doce rancor desse deus severo
que me atrasa em seu pensamento
e esquece que nos prometeu
à poesia: o lugar sincero.
Guilherme Oliveira é de Pelotas.
www.zeroismo.blogspot.com.br
[postado por Ediane Oliveira]
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
#30
Oi, eu sou seu passado presente no futuro
Sou todos aqueles dias que você preferiu esquecer
Sou todas aquelas eternidades que você ousou prometer
De certa forma, sim
Eu sou você
Oi, eu sou a dor
Sou tudo aquilo que você não pode controlar
Sou quem te faz engolir seco, angustiar
Sou cegueira e luz pra atormentar
Meta de começo de ano que você não cumpriu
Data, pessoa, poema que você esqueceu
Quantidade que você já mentiu
O bilhete que ninguém leu
Sou aquele
Aquele
Aquilo
E aquilo outro.
Máximo Ávila é de Manaus, mas reside em Pelotas. É poeta.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Sola
quiere estar sola
con su mirada ilegal
con su mirada ilegal
con su cruzada fatal
con su depresión de moda
con su depresión de moda
quiere estar sola
con sus gafas de gales
flasheando sociales
dando su nota
flasheando sociales
dando su nota
quiere estar sola
con su agenda por cerca
nadie se acerca
mientras siga la boda
con su agenda por cerca
nadie se acerca
mientras siga la boda
quiere estar sola
con el áurea morada
con el áurea morada
con la espina clavada
del botón de su rosa.
del botón de su rosa.
Vicente Botti
Nascido no Uruguai, músico, compositor, produtor cultural, cozinheiro e idealizador de grandes projetos culturais, entre eles, o Poesia no Bar.
[Postado por Daniel]
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Despretensioso
Quem sabe
despejo a pecha
de desleixado
e deixo de lado
a Vida.
Desperto
do outro lado
disperso e desesperado,
desiludido e desavisado,
distante
de todo disparate.
Paulo Olmedo
Rio-grandino, formado em Letras-Português pela Furg e mestrando em História da Literatura, pela mesma instituição, possui experiência na área de Teatro e Audiovisual tendo escrito, produzido e atuado em alguns minimetragens e videoclipes locais. É colunista do Coletivo Fita Amarela, escreve esporadicamente no blog Vida Irreal, além do blog destinado a divulgação e promoção de seu primeiro livro, "A Razão do Absurdo" - com lançamento no próximo dia 10 (mais informações, no link: arazaodoabsurdo.blogspot.com.br).
[postado por Ju Blasina]
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Alquimia
Pela lei dos corpos em movimento
Forças centrífuga e centrípeta
Teu corpo, meu corpo
Exata sincronia
Pela lei da vibração molecular
Dilatação dos líquidos
Meu sangue, teu suor
Alquimia perfeita
Pela lei da gravitação universal
Meteoro no teu mar
Meus olhos, tuas órbitas
Explosão de supernova
Pela lei da relatividade
Espaço-tempo indivisível
Eu em ti, tu em mim
Átimo infinito
Pela lei quântica dos átomos
Indecifrável conceber
Eu contigo, tu comigo
Minha única lei.
Martim César
martimcesar.blogspot.com.br
[postado por valder]
Forças centrífuga e centrípeta
Teu corpo, meu corpo
Exata sincronia
Pela lei da vibração molecular
Dilatação dos líquidos
Meu sangue, teu suor
Alquimia perfeita
Pela lei da gravitação universal
Meteoro no teu mar
Meus olhos, tuas órbitas
Explosão de supernova
Pela lei da relatividade
Espaço-tempo indivisível
Eu em ti, tu em mim
Átimo infinito
Pela lei quântica dos átomos
Indecifrável conceber
Eu contigo, tu comigo
Minha única lei.
Martim César
martimcesar.blogspot.com.br
[postado por valder]
domingo, 4 de novembro de 2012
Sexta-feira
Misturo linguagens
Movimentos de sintonias e versos
Fujo às regras invisíveis do lirismo
Concretizo incertezas sem linhas
Me confundo na poética
Na prosa, semiótica
Sem saber de nada
Pra dizer que te sinto.
Ah, se tu soubesses de mim!
Ah, se fôssemos um...
Seriamos mais.
Seriamos menos
essa ausência toda.
[Ediane Oliveira]
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Faxina
A sinceridade dos fatos
diminui a aflição.
Não era bossa nova
que daria o entendimento do todo,
talvez, encontrasse resposta em uma explicação tropicalista.
Versos simples.
Palavras quase que soltas
[desconexas
sopradas ao pé do meu ouvido
mostravam a composição da imagem.
Aquele quadro
[não na parede, mas sobre o braço do sofá velho, surrado
refletia a minha sensação:
o quão importante são estas estéticas empoeiradas para a mobília do meu apartamento!
Gabriel Borges
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Por certo
Gostaria de saber
Quem instituiu o certo e o errado
Pois insistir no “erro”
É minha especialidade
Gostaria de entender também
A motivação dos que apontam
Com o dedo em riste
Os momentos falhos que consistem
Na construção de uma personalidade
Pois a minha vontade
É de chutar o balde
E repudiar essa fraude
Que é a sociedade capitalista
E se houver amor de verdade
Nos encontros e desencontros que virão
Eu não sei se já estarei pronto
Pois não considero errado o certo
Mas em vão.
terça-feira, 30 de outubro de 2012
entre sonhos e outros doces
"Enquanto dormia
contigo
sonhei
duas vezes
esta noite"
disse ele
ao servir
uma xícara de café
para ela
pouco
importava
o que continha
cada um deles
desde que seguissem
juntos
mesmo
de olhos fechados
ficou
maravilhada
por ainda estar viva
dentro dos olhos
daquele homem
que a fazia acordar
antes mesmo
do sono acabar
aquele homem
que agora lhe servia
tão bem
o café
da manhã
do eterno
dia seguinte
"um foi bom
e o outro
não" disse ele
falando dos sonhos
da noite passada
"conta o bom
primeiro" sugeriu
a sonhada ao sonhador
mas ele não podia
nem se quisesse
pois não
lembrava mais
de qualquer um deles
só sabia que acordara
uma vez
chorando
num susto
e que com custo
e com sorte
pode seguir
dormindo o suficiente
para ter outro sonho
com ela
e ela não pareceu
nem um pouco
desapontada
ao ouvir essas coisas
bem cedo de manhã
e embora não gostasse
de ficar só
assistindo
enquanto ele fazia tudo
aquilo
até a fez sorrir
ainda mais
enquanto ele passava
com uma faca
para cá e para lá
um punhado
de geleia com manteiga
sobre um mesmo pão.
Ju Blasina
P+2T: jublasina.blogspot.com.br
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Por trás das máscaras
do medo, do sonho,
do inverossímil
nos escondemos
humanos.
Pro trás das amarras
do real, do desafeto,
do incomunicável
resplandecemos
solitários.
Por trás das ilusões
da enfermidade, do credo,
do inabalável
nos salvaremos
em vão.
Valder Valeirão
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Esses são dias desleais
Tinha os olhos secos,
assim no passado,
o passado assim,
meio seco e presente,
os sonhos também,
meio passados,
embrulhados pro presente,
e o que virá, virou feito barco em tempestade,
o que fazer preso no presente?
secá-lo também,
pra ver se passa,
Rafaelle Ross é pelotense e produtora do Programa Navegando RádioCom.
www.rossrafaelle.blogspot.com.br
[postado por Ediane Oliveira]
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
As chaves
Se dissesse Deus
a palavra reta
como uma seta
a apontar saídas
a semear um sentido
para as nossas vidas...
se soprasse Deus
a palavra exata
a palavra nua
fosse como a lua
a cerzir rastros de prata
em plena noite escura...
ah! se pronunciasse Deus
a palavra essa
– essencial peça
a encaixar-se
no quebra-cabeça
do mundo –
suspiraríamos fundo
um suspiro de alívio
um suspiro de orvalho...
se tirasse Deus
esse ás da manga
de seu manto
quem sabe o encanto
que derramaria
do singelo gesto?
Se distribuísse Deus
um manifesto
que palavras conteria
que princípios de poesia
choveriam sobre nós?
Ah! se soltasse Deus
a sua voz
que lições encerraria
em seu discurso?
Traria alguma vida
e esperança
às cidades tensas
às aldeias tortas...
Traria as chaves
da felicidade.
Abriria as portas?
Álvaro Barcellos é natural de Pelotas/ RS, 1961. É poeta e letrista.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Os sonhos
No abrigo do medo
cabe nem um segredo meu
Nenhum sonho pode ser maior
do que eu
No impensável fenecer deste corpo
frutificam desmesuras de pura morte
Da sede de formas de que a morte se queixa
a gente atreve os desaforos de estar vivo
Foge de mim o fim
De medo do que posso ser,
dos milhões de feições que posso ter
quando um querer me desafia a sorte de não chegar
E por querer o fim, o fundo, o farto
a gota d'água,
só o que me faltava,
aceito o dom de ser menor.
Nenhum sonho pode ser maior
do que eu
No impensável fenecer deste corpo
frutificam desmesuras de pura morte
Da sede de formas de que a morte se queixa
a gente atreve os desaforos de estar vivo
Foge de mim o fim
De medo do que posso ser,
dos milhões de feições que posso ter
quando um querer me desafia a sorte de não chegar
E por querer o fim, o fundo, o farto
a gota d'água,
só o que me faltava,
aceito o dom de ser menor.
Marília Kosby
[postado por Daniel Moreira]
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Eu costumava saber
Eu sei
você lê este poema
querendo encontrar algo
que o eleve ou
uma nova expressão da língua
e fica
extremamente
decepcionado.
Eu sei
como é difícil pra você
acostumado a ler
o cânone da academia
os formalistas
os parnasianos
os suicidas
perder um tempo
lendo os meus versos
desconexos
sem rima ou
profundidade
sem métrica ou
vaidade
mas é uma pena
que você não encontre
nos meus poemas
o que encontrei
em outros poemas:
A verdade.
Eu sei
o quão difícil é pra você
ler "foder"
no lugar de "fazer amor"
e "cachaça"
no lugar de "champagne"
mas não me culpe
culpe a sua
perspectiva
burguesa.
Eu sei
que é difícil pra você
deixar de de crer
que os medalhões falam a verdade
e que sua graduação em Letras
seu mestrado em História da Literatura
seu doutorado em Literatura Portuguesa
são apenas troféus empoeirados
na estante da humanidade.
Eu sei
que você vai chegar lá
quando deixar de "evacuar"
e passar a "cagar"
como uma pessoa normal
e que em breve
muito em breve
você terá bons motivos
para escrever fora dos padrões
impostos por mestres jurássicos
com rabos besuntados
por talco
Alma de Flores.
Quando você chegar lá
me liga
mas por enquanto
divirta-se
com suas antologias
enquanto economizo
para editar
meu primeiro livro
de poesia.
Rody Cáceres
blogdorodycaceres.blogspot.com.br
Vendedor de livros, acadêmico de Letras, escritor nas horas vagas e músico acidental. Autor de "Para onde foram os heróis" [e-book e papel] - estará entre os poetas do 13º Poesia no Bar, no próximo domingo (28), em Rio Grande.
[Postado por Ju Blasina]
você lê este poema
querendo encontrar algo
que o eleve ou
uma nova expressão da língua
e fica
extremamente
decepcionado.
Eu sei
como é difícil pra você
acostumado a ler
o cânone da academia
os formalistas
os parnasianos
os suicidas
perder um tempo
lendo os meus versos
desconexos
sem rima ou
profundidade
sem métrica ou
vaidade
mas é uma pena
que você não encontre
nos meus poemas
o que encontrei
em outros poemas:
A verdade.
Eu sei
o quão difícil é pra você
ler "foder"
no lugar de "fazer amor"
e "cachaça"
no lugar de "champagne"
mas não me culpe
culpe a sua
perspectiva
burguesa.
Eu sei
que é difícil pra você
deixar de de crer
que os medalhões falam a verdade
e que sua graduação em Letras
seu mestrado em História da Literatura
seu doutorado em Literatura Portuguesa
são apenas troféus empoeirados
na estante da humanidade.
Eu sei
que você vai chegar lá
quando deixar de "evacuar"
e passar a "cagar"
como uma pessoa normal
e que em breve
muito em breve
você terá bons motivos
para escrever fora dos padrões
impostos por mestres jurássicos
com rabos besuntados
por talco
Alma de Flores.
Quando você chegar lá
me liga
mas por enquanto
divirta-se
com suas antologias
enquanto economizo
para editar
meu primeiro livro
de poesia.
Rody Cáceres
blogdorodycaceres.blogspot.com.br
Vendedor de livros, acadêmico de Letras, escritor nas horas vagas e músico acidental. Autor de "Para onde foram os heróis" [e-book e papel] - estará entre os poetas do 13º Poesia no Bar, no próximo domingo (28), em Rio Grande.
[Postado por Ju Blasina]
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