segunda-feira, 2 de julho de 2012

Embriaguem-se

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não
sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra,
é preciso que se embriaguem sem descanso.


Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um
fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer
quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro,
ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que
canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela,
o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem
os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se
sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.


Charles Baudelaire

[Postado por Valder Valeirão]

Um comentário:

Ju Blasina disse...

"Com vinho, poesia ou virtude"?
Com vinho, poesia E virtude!