terça-feira, 31 de julho de 2012

O estouro

demais
tão pouco

tão gordo
tão magro
ou ninguém.

risos ou
lágrimas

odiosos 
amantes

estranhos com faces como
cabeças de
tachinhas

exércitos correndo através
de ruas de sangue
brandindo garrafas de vinho
baionetando e fodendo
virgens.

ou um velho num quarto barato
com uma fotografia de M. Monroe.

há tamanha solidão no mundo
que você pode vê-la no movimento lento dos
braços de um relógio.

pessoas tão cansadas
mutiladas
tanto pelo amor como pelo desamor.

as pessoas simplesmente não são boas umas com as outras
cara a cara.

os ricos não são bons para os ricos
os pobres não são bons para os pobres.

estamos com medo.

nosso sistema educacional nos diz que
podemos ser todos
grandes vencedores.

eles não nos contaram
a respeito das misérias
ou dos suicídios.

ou do terror de uma pessoa 
sofrendo sozinha
num lugar qualquer

intocada
incomunicável

regando uma planta.

as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.

suponho que nunca serão.
não peço para que sejam.

mas às vezes eu penso sobre
isso.

as contas dos rosários balançarão
as nuvens nublarão
e o assassino degolará a criança
como se desse uma mordida numa casquinha de sorvete.

demais
tão pouco

tão grodo
tão magro
ou ninguém

mais odiosos que amantes.

as pessoas não são boas umas com as outras.
talvez se elas fossem
nossas mortes não seriam tão tristes.

enquanto isso eu olho para as jovens garotas
talos
flores do acaso.

tem que haver um caminho.

com certeza deve haver um caminho sobre o qual ainda
não pensamos.

quem colocou este cérebro dentro de mim?

ele chora
ele demanda
ele diz que há uma chance.

ele não dirá
"não".



Charles Bukowski 
Leia este e mais poemas dele no livro "O Amor é Um Cão dos Diabos";


[postado por Ju Blasina]

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O que aconteceu

Mais do que é permitido,
mais do que é preciso,
como um delírio de poeta
sobrecarregando o sonho:
a pelota do coração tornou-se enorme,
enorme o amor,
enorme o ódio.
Sob o fardo,
as pernas vão vacilantes.
Tu o sabes,
sou bem fornido,
entretanto me arrasto,
apêndice do coração,
vergando as espáduas gigantes.
Encho-me dum leite de versos e,
sem poder transbordar,
encho-me mais e mais.

Vladimir Maiakovski

[postado por Valder Valeirão]

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Bolero

Não me queira em paz
Só me deixe a sós com meu cigarro
Calado
Não me olhes mais
Com este teu olhar de desagravo
De lado

Não diga que não
Não jure que vem
Não peça um tostão
Não pague um vintém

Esse bolero é pra te ver calada
Agora...

Não se jogue fora
Do último andar
Não mande cartas sentidas
Não se arrependa
Nem peça desculpas extremadas
Doídas

Não diga que não
Não jure que vem
Não peça um tostão
Não pague um vintém

Esse bolero é pra te ver calada
Agora...

Não me queira mal
Me queira assim
Como se eu fosse um santo

Não me queira mal
Me queira assim
Como se eu fosse um outro.

Juliano Guerra
Compositor, cronista, contista e poeta. Mora em Canguçu, se dedica atualmente à gravação do seu primeiro disco solo. Segundo ele, a composição acima é letra, "apenas". Para mim, sua composição também é poética. Também causa sensações profundas, pertubações e o que mais a liberdade da poesia proporciona. É um nome que eu, de olhos fechados, indico e tenho um grande prazer de apresentar. Juliano me fez bem de início. E até agora, só tem me surpreendido artisticamente. Para ouvir o poema/canção e o assistir, AQUI vai o link

[postado por Ediane Oliveira]

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Arte

Vivas à arte,
Que está em toda parte!

Na suave melodia.
Na sublimidade da poesia.

Na voz que encanta.
No passo marcado da dança.

Na natureza fotografada
Na vida encenada.

Nas formas da escultura
Nas cores vivas da pintura.

Que saiba aplaudir
Quem tenha ouvidos de ouvir.

Quem tiver olhos de ver
Que ressalte o saber viver

Com arte...
... em toda parte.



Rogério Nascente,  
Poeta. Formado em Direito. Revisor de textos.
Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil

terça-feira, 24 de julho de 2012

Dias de chuva

a chuva escoa na minha janela
vejo pequenos buracos virarem poças
e poças formarem
um espelho acometido pelas gotas
que ainda caem

a rua alagada
                 me
navega no tempo
quando o cheiro de terra
antecipava o temporal

e eu,            , pela janela
         olhava
minha rua tornar-se uma Veneza
e sonhava, um bom sonho
com gôndolas guiadas por homens de camisas listradas
deslizando
para além do meu mundo

o que fazia era esperar
o sino da aula tocava distante
e nenhuma gôndola vinha
                        me buscar
olhava o céu e aguardava

o sol

em algum momento
resolvia aparecer
a chuva
também
decidia se entregar

corria então
à orla de minha rua
levando minha gôndola
ora de papel, ora de madeira
e a via partir
para os confins do mundo
além do semáforo da esquina.


Jairo Tx
Desenhista, ilustrador, fótografo amador, o 'arteiro' em questão é rio-grandino, mestre com imagens e novo no mundo da poesia - seus poemas mais antigos têm pouco mais de um ano e neles as palavras sempre vêm bem acompanhadas por outras formas [trouxe para cá este poema desmembrado de sua figura companheira - para ver o trabalho inteiro, clique >aqui<].

[postado por Ju Blasina]

segunda-feira, 23 de julho de 2012

...

Que é isso que me dá...
Esse desepero de não saber de ti?
Essa sensação que o tempo parou
E que desci numa estação vazia?

E a cidade, deserta agonia
Só sons como gritos ecoam em mim
Saudade e medo de despertar
Quando não mais me queiras em ti.

Myrian Comberlato
www.engenhofeminino.blogspot.com.br

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dor do Olhar

Olha só o que se vê da janela,
Lindos quadros, de tristonhos,
                                  são luz.
A malícia é um ser que seduz.
Por Augusto tude em forma
                                de cruz.

Olho e me calo,
finjo não entender.
Espero e não falo,
para enfim esquecer.

Da janela, vinham palmas eufóricas.
Do palco, a desolação.
A calçada estava cheia de folhas.
Em uma noite de vendaval.

Olho e me calo,
finjo não entender.
Espero e não falo,
para enfim esquecer...

que o poeta não quer amor,
o poeta não quer amar.
o poeta vive na dor,
na dor do seu olhar.


Gabriel Borges

                                            

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O dia

Quando chegar o dia
Vou amanhecer antes do sol
E colher algumas flores
Na floricultura da esquina
Vou me desentender com o relógio
Ao tentar aumentar seu passo
Vou me perder no curto espaço de tempo
Que ainda restará

Finalmente
Quando os meus olhos encontrarem os teus
Dificilmente a emoção deixará de se manifestar 
                                              [por alguma via

Seja na forma de um sorriso
Seja num poema de minha autoria.


Daniel Moreira
poemas-urbanos.blogspot.com

terça-feira, 17 de julho de 2012

Recheio

O aparentar
é um ato
falho.
(um) quase
(que) sempre
nos desmente

O que o
externo
estranha
e enxerga
e enxuga
em coisa viva
 
É que por dentro
somos
feitos de gente.

Ju Blasina

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Antes das luzes da aurora
do renascer do sol
da persistência das horas
vem o teu arrebol
de sabores infindos
e múltiplos perfumes no ar.

Antes mesmo de todas as coisas
dançar com tuas flores
estar no teu sonho
entrar no teu ser
nascer e morrer
do mais puro e santo
prazer.

domingo, 15 de julho de 2012

Sentido


Recolho aqui e acolá
pedaços, nacos, fragmentos
do que um dia fomos.
É um ofício que requer paciência.
Procuro juntá-los,
criar nexos, elos,
montar as peças.
É uma arte, e requer cuidados.
Apanho as partes,
viro-as do avesso,
troco-as de lado e lugar.
Tento entender seus mistérios.
Tiro conclusões:
ora acerto, ora erro,
relevo, volto atrás.
Talvez tudo seja tão mais simples.
Persigo pegadas,
pesquiso, mergulho,
repouso e torno a trilhar.
Somos nós na seiva da história.
Respiro fundo,
recobro a calma
e removo o pó dos tempos
na sede milenar
de um sentido pro viver.


Álvaro Barcellos
www.alvarobarcellos.com


Mora em Pelotas/RS. Conheci este cara o entrevistando no meu programa, na RádioCom. Crítico literário (mesmo que talvez não se autodenomine) e um 'poeta que não nasceu ontem', na minha honesta opinião. Produtor e apresentador do Programa Olhares, na Rádiocom, todas as quintas-feiras, às 21h e um dos convidados do Poesia no Bar. Álvaro é um cara massa para se indignar com as atrocidades do mundo e falar sobre poesia.]

[postado por Ediane Oliveira]

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Micro-ondas

explicar o brasil a um extraterrestre:
tua cara numa bandeira. te saberiam líder
e te dariam cabo: parte suja
da conquista.
mas já foi, de outra maneira: vista aérea
da amazônia, vinte e tantas
hidrelétricas
pros teus ovos fritos no micro-ondas.
e te dariam cabo: parte certa
da conquista.
e se vieram mesmo
pra conhecer as cataratas?
ou pra aprender com a nata
como se faz uma democracia?
as naves tapam o céu completamente.
todos os escritórios
e todas as lojas de comidas rápidas
decretam fim de expediente.
baratas e ratos
fugiram antes.
é natal, carnaval, páscoa
nossa senhora aparecida e juízo final
tudo ao mesmo tempo.
amantes se comem pela última vez.
caixas eletrônicos vomitam a seco.
o supermercado era um cemitério!
os shoppings, os engarrafamentos!
explicar o casamento igualitário
a uma iguana, explicar
alianças políticas a um gato, explicar
mudanças climáticas
a uma tartaruga de aquário.
já está. agora espera.
toma um activia.
mora na filosofia. imagina!
num país tropical. péssimo!
não rio mais. trágico!
piores que gafanhotos
suas maravilhas hidrelétricas serão
vistas, em chamas, de sírius:
“o meu país era uma pamonha
que um alien esfomeado
pôs no micro-ondas.”
queime-se.
é um epitáfio possível.

Angelica Freitas - (Pelotas, 1973) é uma poeta e tradutora brasileira. Publicou o livro Rilke shake (São Paulo: Cosac Naify, 2007). Participou de vários encontros de poetas e festivais internacionais, como o Festival Latino-americano de Poesía Salida al Mar (Buenos Aires), o Poquita Fé, em Santiago do Chile, e é uma das convidadas do Poesie Festival em Berlim, dedicado em 2008 à poesia lusófona. Seus poemas foram publicados em várias revistas impressas e eletrônicas, como Inimigo Rumor (Rio de Janeiro, Brasil), Diário de Poesía (Buenos Aires/Rosário, Argentina), águasfurtadas (Lisboa, Portugal), Hilda (Berlim, Alemanha) e Aufgabe (Nova Iorque, Estados Unidos), e figura na antologia Cuatro Poetas Recientes del Brasil (Buenos Aires: Black & Vermelho, 2006). É co-editora, com os poetas Marília Garcia, Fabiano Calixto e Ricardo Domeneck, da revista de poesia Modo de Usar & Co. Traduziu poetas argentinas como Susana Thénon e Lucía Bianco.

[Postado por Gabriel Borges da Silva]

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Partido do Artista

Eu não sou machista
Nem sou feminista
Direita ou esquerdista
Social ou comunista
Sou do partido do artista
Que respeita ponto de vista
Contra o egoísta e o capitalista
E ser feliz esteja na lista
Como verdade e missão
De quem a cada dia
Reverencia São Jorge
Mas antes salva o Dragão.

Marina Mara

Marina Mara é brasiliense e nasceu em trinta de março de 1979. É jornalista, publicitária, produtora cultural independente,  letrista e roteirista. A escritora multimídia idealiza projetos e intervenções urbanas visando a popularização da poesia e a inclusão sociopoética do grande público. A poeta elabora suas intervenções direcionadas ao público que a assiste – uma miscelânea de humor, poesia, videoarte e teatro. Em maio de 2010, Marina Mara lançou seu primeiro livro solo, o Sarau Sanitário.com, que é parte de um projeto homônimo de inclusão social de deficientes visuais e popularização da poesia por banheiros públicos e pelo mundo virtual. O projeto teve repercussão em mídia nacional e em breve será lançado em outros estados do Brasil. 

[Postado por Daniel Moreira]

terça-feira, 10 de julho de 2012

D'a dor me ser

a
dor
me
sendo.
[haverá
sol
de
dentro
pela
manhã
?]

Talita Prates

Eis uma menina que sabe mesmo como brincar de palavras!
Paulista, psicóloga, graduada em filosofia, musicista, descreve-se como "aspirante a poeta" e diz que mora no caminho. Talita pode ser lida em seu lindo blog [História da minha alma], de onde foi muito, mas muito difícil trazer um poema só.

[postado por Ju Blasina]

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Respiração


escrevo-te gesto simples

como o fluir de um rio

como o voo de um pássaro

como um trabalhador suando

não a qualquer coisa que te eleve acima do mundo

não aos delírios que te enformam deus

não à castidade das palavras

que as palavras são o homem

e nenhum homem é só alvura

por isso o grafite nas nuvens

por isso esta metade homem esta metade pássaro

eu te amo assim

e só assim te bebo e te cuspo

te sujo e me embebedo

a planície branca aos que gostam de pureza

eu te escrevo sangue te ouço eco te bebo brisa

te lanço vômito te xingo e amo

só assim te penetro

só assim te sinto

não à automasturbação solitária

quero o roçar de dois corpos

e a lágrima o sêmen a mordida

o beijo o amargor

o suor nas epidermes unívocas

o fim

como quem bebe num rio

como quem rega uma planta

como macho e fêmea

como vida e morte

não como um redemoinho seco

ou um peixe insípido

escrevo-te sol pulso e movimento

não como cinzenta lápide fria coberta de musgo

ou queixume cotidiano

escrevo-te como quem vive

e como quem morre

como húmus

como um sonho que invade a manhã

como um sol que penetra na noite

como um mau presságio

como nuvens carregadas

como as águas que descem pela vertente

escrevo-te vastidão colhida

digerida

compartilhada

como um coração doado

como uma lágrima

como qualquer coisa que fale:

um suspiro um ganido um sinal

não o silêncio instransponível

não a tinta sempre branca e seca

escrevo-te corpo e voo

som e pausa

predador e presa

escrevo-te ciclo do homem

escrevo-te permuta

e nenhuma renúncia a mim mesmo

nenhuma recusa ao mundo

escrevo-te coito gravidez e parto

escrevo-te desprezo solidão e aborto

e tu – cinzel no meu corpo

e eu – cinzel no teu corpo

num fluxo infindável

como o sol para a vida

como pinturas rupestres

como um espelho difuso

como quem se vê por outros olhos

como se desenhar

e assim

caminhar dentro de mim

e me dissolver nas coisas

e mastigar o mundo

e contemplar tal pintura.

Ed Gonçalves

*Este é o seu pseudônimo. Nome, eu ainda não sei. Tirou o primeiro lugar do Concurso Alt Fest! FliPorto 2011, em Olinda/PE. O descobri pela internet e desde então leio e releio este poema com fôlego, fogo, medo, desejo, ternura, secura, excitação, liberdade e mais...

[postado por Ediane Oliveira]

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Atraso pontual

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?

 Paulo Leminski

[Postado por Gabriel Borges da Silva]

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Quem Ama Inventa

Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria,
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes tu o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!

Mário Quintana

[postado por Daniel Moreira]

terça-feira, 3 de julho de 2012

encurralado

não dispa o meu amor
você pode encontrar um manequim;
não dispa um manequim
você pode encontrar
o meu amor.

ela há muito tempo
me esqueceu.

ela experimenta um novo
chapéu
e parece mais
coquete
do que nunca.

ela é uma
criança
e um manequim
e
é a morte.

não tenho como odiar
isso.

ela não faz
nada fora do
comum.

queria apenas que ela
fizesse.

Charles Bukowski 
[Andernach, Alemanha, 1920 -  Califórnia, EUA 1994]

Começou a escrever poesias aos 15 anos, mas teve seu primeiro livro de poemas publicado somente 20 anos depois. A descrição de sua vida pessoal é marca registrada de toda a sua obra, assim como a completa falta de discrição, ao citar inclusive os nomes verdadeiros dos personagens nada fictícios que o cercavam.

Levou uma vida errante, bebendo em excesso e escrevendo alucinadamente: publicou mais de 45 livros. Teve alguns de seus textos adaptados para o cinema e recusou diversos convites para escrever roteiros. Com o tempo, adeptos do seu estilo violento e despudorado na literatura começaram a aparecer, mas poucos foram e são aqueles que, como ele, encontram na sarjeta um lar, um refúgio e uma inesgotável fonte de inspiração. Na sarjeta e nas mulheres: o "velho safado" viveu amando, sofrendo e escrevendo sobre elas. Sua obra "Mulheres" começa com a frase:
"Muito cara legal foi parar debaixo da ponte por causa de uma mulher." 
Morreu aos 73 anos vítima de uma pneumonia decorrente do tratamento para a leucemia. Deixou uma filha, algumas ex-mulheres e milhares de leitores desolados. Foi um dos maiores e mais polêmicos poetas de todos os tempos. Em seu túmulo está escrito "Don't Try" - em português: "Não Tente". E, embora muitos ignorem a sugestão, raros são os que de fato conseguem.


[Postado por Ju Blasina]

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Embriaguem-se

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não
sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra,
é preciso que se embriaguem sem descanso.


Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um
fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer
quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro,
ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que
canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela,
o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem
os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se
sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.


Charles Baudelaire

[Postado por Valder Valeirão]